sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Brew Dog, o excesso em forma de cerveja.


Desta vez, nossa peregrinação nos levou a dois exemplares de cerveja oriundos da escola conhecida por extreme beers. Surgida nos Estados Unidos, ganhou adeptos em várias partes do globo. Um dos mais ferrenhos é a cervejaria Brew Dog, localizada em Fraserburgh, cidade a 263 quilômetros ao norte da capital escocesa, Edinburgh. Criada por dois jovens em 2007, a cervejaria é fortemente inspirada nos congêneres norte-americanos da Flying Dog, tanto pelo nome como pela estética composta de tipologias “sujas” e “tortas”. Talvez seja uma tentativa de soar “rebelde”, de ter um ar mais, digamos, punk. Afinal, eles estão em território britânico, onde são produzidas algumas das mais tradicionais e requintadas cervejas do planeta. Para contrariar os padrões locais, os rapazes em questão resolveram copiar o modelo criado do outro lado do Atlântico e, ao que tudo, indica, estão se dando bem.

Em uma visita recente ao Empório Alto de Pinheiros, resolvi provar duas variedades escocesas em torneira (chope): a muito comentada Punk IPA e a Pale Ale Trashy Blonde. Uau, quanta rebeldia, não? Vamos ver como essas meninas de kilt rasgado e coturnos se comportam no paladar. A primeira delas, Punk IPA, com 5,6% de álcool, tem uma coloração âmbar escura, aroma e sabor que, de tão adocicados e frutados, chegam a ser enjoativos. Laranja, frutas tropicais, limão, os aromas, assim como nos exemplares norte-americanos, são excessivos. O primeiro copo até desce bem, mas não dá vontade de pedir o segundo. O final é seco e adstringente.

Um parêntese: para quem não está familiarizado com a nomenclatura cervejeira, o “IPA” do nome vem de India Pale Ale, estilo de cerveja mais encorpado e alcoólico criado no Império Britânico para suportar a viagem até as colônias na Índia.

A Trashy Blonde desce melhor, pois é um pouco mais suave. Poderíamos, como comparação, dizer que esta é uma versão “amansada” da anterior, já que os estilos são, na origem, parelhos. Trata-se de uma Pale Ale com 4,1% de álcool, de coloração âmbar.  Aqui, as frutas mudam um pouco, embora ainda cítricas, com mais maracujá e abacaxi, e lúpulo um pouco menos pronunciado. De qualquer maneira, estes excessos comprometem bastante a drinkability, pois a boca chega a ficar seca ao término do copo. Dá aquela sensação de “boca amarrada”, que costuma acontecer quando comemos uma banana verde, por exemplo.

Conclusão: nota-se que, assim como os compadres da Flying Dog, os caras da Brew Dog sabem fazer cerveja, a bebida tem muitas qualidades, ingredientes de primeira, sem aditivos químicos, etc. Mas essa mania de querer colocar tudo de uma só vez me desagrada, qual o motivo de adicionar quatro tipos de lúpulo numa mesma cerveja, como na Punk IPA? Chega a ser um desperdício, uma falta de bom senso. Ao invés de se traduzir em complexidade, o resultado final é confuso e desbalanceado. Devem ser os arroubos da juventude, aquela paixão, a vontade de fazer tudo diferente dos “adultos”. Filosofando um pouco, talvez seja por isso que as extreme beers possuem tantos fãs apaixonados. De qualquer maneira, não oferecem nada que me faça abrir mão da elegância encontrada em cervejas como Fuller’s London Pride, Bishop’s Finger, Hen’s Tooth, Courage Director’s, entre outras.

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