terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Palestra no Senac Aclimação: “Vinho, Cerveja e Guaraná: as drogas no divã”.

Muito interessante a palestra no Senac Aclimação, ministrada ontem, com o tema: “Vinho, Cerveja e Guaraná: as drogas no divã”.  A instituição possui um bom respaldo em termos de gastronomia, já que oferece diversos cursos de formação profissional reconhecidos no mercado. Ontem, a palestra ficou a cargo de Alexandra Corvo (na foto acima), sommelière de vinhos e proprietária da escola Ciclo das Vinhas, Henrique Carneiro, professor da USP, especialista em história das drogas, bebidas e alimentação e Emilio Terron, filósofo.

Alexandra Corvo frisou a importância de aprender mais sobre o que gostamos de beber, não para nos tornarmos “enochatos”, mas para nos divertirmos cada vez mais com as sensações e memórias que a boa bebida nos proporciona. Nesse sentido, vamos descobrindo novas uvas, vinícolas, regiões produtoras, criando um repertório que se amplia a cada experiência.

Muito foi dito em um curto espaço de tempo, o que deixou a plateia um tanto atordoada. Vou tentar resumir o que apreendi. Desde a antiguidade, as bebidas alcoólicas foram associadas ao sagrado, seja pelo efeito que provocam, seja pela particularidade de serem “quentes”. Os antigos acreditavam que o corpo era regulado por quatro humores (substâncias) distintos, que iam do mais quente, o sangue, passando pela bile, depois pela melancolia e, por último, pela fleuma, mais fria. O uso de uma substância “quente”, portanto, regularia os humores do corpo, agindo como uma espécie de remédio.

Também foi abordada a questão da dor, algo que, hoje em dia, as pessoas tentam evitar a todo custo, utilizando-se de paliativos como antidepressivos e ansiolíticos. Hoje, a busca desenfreada pela felicidade faz com que as pessoas se fechem aos sentimentos de melancolia ou que entrem em depressão por não alcançarem o conforto material e sucesso profissional que haviam planejado. A felicidade é colocada sempre no futuro, jamais no presente, originando o chamado niilismo reativo. Citando Schopenhauer, o filósofo afirmou que “a vontade de nada passa a ser um nada de vontade”.

Os gregos atingiram um grau de evolução que, em alguns aspectos, se perdeu. A dureza da vida era compensada pela confraternização entre amigos, daí a palavra simpósio (literalmente “beber junto”), onde, após um banquete, os convidados dialogavam lubrificados por taças de vinho. É preciso sentir e enumerar as coisas da vida, dores e alegrias. A pessoa que bebe com moderação certamente terá maior capacidade de apreciar outros prazeres  como a musica, a arte, a poesia, coisas, enfim, que sensibilizam.

A bebida tem a função de filtro ou lente, revelando o que a pessoa é. Beber com parcimônia, para os gregos, era um termômetro de civilidade, um teste de caráter. Era a tal temperança que, séculos mais tarde, teve seu significado deturpado pelos cristãos para algo próximo da abstinência. Hoje, somos orientados a blindar a mente contra os afetos, que, além da acepção de afetividade, também inclui a noção de ser afetado, comovido, tocado. A razão não dá conta de tudo, é preciso dar espaço a outras formas de percepção.

Os temas, como se pode notar, dão muito pano para a manga, não é o caso de me estender aqui, mas a palestra foi muito bem-vinda e espero que novas oportunidades como esta surjam em breve. Só faltou falar um pouco mais de cerveja, quem sabe na próxima...

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Bela garrafa, conteúdo agradável

Viru
Premium Lager / German Pilsner
País de origem: Estônia
300 ml
5.0%

 Depois da invasão russa com os rótulos da Baltika, eis que desembarca em terras brasileiras uma cerveja produzida na Estônia. Trata-se de um pequeno país que faz fronteira com a Rússia, ao leste, e com a Letônia, ao sul. Ao norte, o Golfo da Finlândia, país que também é banhado pelo Mar Báltico. Feita a ressalva geográfica, voltemos à cerveja. O que mais impressiona, logo de cara, é a bela garrafa âmbar de formato inusitado, de inspiração Déco. É elaborada com maltes da região báltica e lúpulo Saaz, da República Tcheca. No copo, um líquido amarelo com tons de dourado e espuma média. No nariz, aroma de cereais, adocicado e um toque de fermento, que me lembrou algumas artesanais brasileiras, embora de maneira mais sutil. Na boca, sabor agradável, o amargor do lúpulo Saaz se faz presente de maneira discreta, muito bem inserido. Embora não seja algo fora de série, trata-se de uma cerveja com boa presença de malte, bom corpo e excelente drinkability. Li em sites especializados algumas críticas descendo a lenha na cerveja, mas não entendo o porquê de tanta má vontade.